domingo, 26 de junho de 2011

Reinhard Maack

O geólogo alemão Reinhard Maack é considerado por muitos como o pai da Geografia e Geologia do Estado do Paraná. Porém, além da importância de seus estudos para o reconhecimento das paisagens no Estado, Maack foi um explorador e sua vida é um capítulo onde a história das geociências e do montanhismo brasileiro se cruzam. Conheça um pouco a vida deste ilustre alemão de coração brasileiro.

Maack nasceu na Alemanha em 1892. Aos 18 anos especializou-se em geodésia (área vinculada à engenharia cartográfica), mas era muito inquieto e queria conhecer o mundo. Como era plena época das grandes expedições exploratórias, ele se inscreveu para participar da expedição alemã à Antártida no período 1911/1912, a mesma temporada em que o Pólo Sul foi conquistado pelo norueguês Roald Amundsen. Maack não foi aceito na expedição por ser muito jovem, mas decidiu que iria conhecer o mundo.

Em maio do mesmo ano, viajou para o Sudoeste da África para tentar a sorte e conseguiu emprego no Serviço Geodésico de Windhoek, na Namíbia. Porém, a I Guerra Mundial eclodiu e ele foi convocado para servir ao Exército Alemão. Ao longo de um ano de combates, a pequena unidade militar onde servia se rendeu às tropas britânicas, mas ele e seis companheiros fugiram e tentaram cruzar o continente africano para se juntar às outras tropas que se situavam no Leste da África.

Quatro de seus companheiros foram capturados pelos ingleses, mas Maack, um sargento e um suboficial continuaram fugindo e foram forçados para o norte do deserto do Kalahari, dessa vez sozinho, onde permaneceu durante seis meses num solitário olho d´água.

Um ferimento o obrigou a procurar auxilio médico e ele foi para Swakopmund, onde encontrou A. Hofmann, um colega cartógrafo da Sociedade Colonial Alemã. Durante a permanência nesta cidade, Maack e seu companheiro tiveram a oportunidade de observar uma estranha elevação que eles calcularam estar a 250 Km de distância, sendo conhecida como montanhas Messum. No mapa, o ponto culminante constava como tendo 1100 metros de altitude, mas eles presumiram que era mais alto e que a altitude estava errada. Calculavam que a montanha tivesse aproximadamente 3000 metros de altitude, isto é, quase 3 vezes mais que o valor que constava no mapa.

Os dois resolveram explorar a área. Na primeira expedição fizeram o mapeamento, mas não conseguiram subi-la. Depois, em 1917, por conta própria, Maack organizou uma segunda expedição para chegar ao cume. Conseguiram e mediram a altitude. Descobriram que ela não tinha apenas 1100 metros, como constava no mapa, e sim 2606. Décadas mais tarde, medições utilizando métodos mais precisos revelaram a altitude de 2586 metros, sendo constatado que esta montanha era a mais alta do Sudoeste da África, sendo batizada de Brandberg. Os mapas da região produzidos por eles até hoje são utilizados devido à alta qualidade dos trabalhos.


Montes BrandBerg - Foto: paxgaea.com

Na volta desta expedição Maack descobriu uma gruta onde havia uma curiosa pintura rupestre e muitos artefatos pré históricos. Nesta pintura rupestre havia desenhado homens negros e brancos, o que instigou em Maack a hipótese de que os antigos Egípcios pudessem ter chegado até o Sul da África. Esta pintura foi estudada por diversos antropólogos e arqueólogos e é chamada de “Dama Branca”, sendo que até hoje divide cientistas e provoca polêmicas.

Em 1919 ele organizou outra expedição para a Namíbia, dessa vez para mapear o deserto. Ocorreram alguns problemas e Maack passou quatro dias delirando de sede e caminhando inconscientemente, até conseguir achar o oásis de onde ele havia partido. Apesar desse incidente, ele conseguiu realizar o trabalho.

Até 1920 viveu com nome falso, porque era fugitivo de guerra. Decorridos vários anos após o fim da I Guerra Mundial, acabou sendo reabilitado e voltou à Alemanha. De 1920 a 1929 trabalhou para uma empresa de mineração como engenheiro e foi quando o enviaram ao Brasil, em 1923, para trabalhar por quatro anos no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

Os trabalhos em minas de exploração despertaram nele a vontade de trabalhar em assuntos geológicos e ele resolveu voltar à Alemanha para estudar Geografia e Geologia. Em 1930, retornou ao Brasil, dessa vez trabalhando para a Universidade de Berlin para fazer levantamentos geológicos e geográficos no Paraná. Em 1930, resolveu ficar definitivamente no país, comprou terras no interior do Estado e deu prosseguimento aos trabalhos. Maack utilizou o Paraná como laboratório para seus estudos, começando por realizar pesquisas geológicas, depois topográficas e por fim estudando a fitogeografia do Estado.

O conhecimento adquirido na Namíbia e as experiências no Paraná levaram Maack a tecer considerações sobre as origens dos continentes americano e africano, numa época em que falar em deriva continental era considerado uma heresia. Maack comparou rochas de ambos os continentes, diamantes e os fosseis encontrados e um foi um dos precursores da famosa teoria. Talvez pelo ineditismo e a precocidade de suas considerações, ele foi desacreditado na comunidade cientifica.

Com sua sede por conhecimento, Maack se juntou com alguns dos melhores montanhistas de Curitiba na época e organizou expedições para medir e estudar as montanhas da Serra do Mar. Junto com Alfred Missing e Rudolf Stamm, ele descobriu a verdade altitude do Pico Paraná, que ele batizou. Assim ele desmitificou que o Monte Olimpo, no Marumbi, fosse a montanha mais alta do Sul do Brasil. O nome de diversas montanhas na Serra do Mar paranaense foi batizada por Maack, algumas, inclusive, para atenuar os conflitos com os governantes da época, como Getulio Vargas, que foi homenageado com o batismo do “Morro do Getúlio”.

Foto do Pico Paraná tirada do litoral por Maack

O batizado de cumes com nomes de políticos não amenizou os conflitos existentes entre Maack e as autoridades e com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, ele e outras pessoas importantes de origem alemã foram presas. Maack ficou seis meses numa penitenciária em Curitiba e depois foi transferido para o antigo presídio que existe na Ilha Grande (RJ). Foi libertado em 1944 por iniciativa de algumas pessoas influentes e colocado à disposição para trabalhar para o governo brasileiro.

Lecionou na Universidade Federal do Paraná, onde fundou o curso de Geologia, e ministrou cursos de Paleontologia, Geografia Física e Geologia, formando alguns dos geógrafos e geólogos mais importantes do Brasil. Foi naturalizado brasileiro em 1949 por possuir terras e uma filha brasileira.

Depois dessa fase e de ter desenvolvido vários trabalhos importantes, Maack tirou o título acadêmico de Doutor e realizou outros trabalhos e expedições exploratórias para estudar a origem da Serra do Mar. Participou de muitas outras expedições e congressos científicos em vários países de todos os continentes, tendo chegado, inclusive, próximo à base do Everest em 1964, quando tinha 72 anos, o que teria sido para ele uma de suas maiores emoções.

Na época, o Everest era um enorme de um mito, pouquíssimos montanhistas haviam chegado ao cume e um trekking até sua base era uma grande e difícil expedição.

Em 1968 ele foi a um Congresso de Geologia em Praga, na antiga Tchecoslováquia, mas o encontro não foi realizado porque coincidiu exatamente com a invasão do país pelos soviéticos. Ficou retido no hotel de onde assistiu da janela o massacre do povo tcheco, detonado pelos bombardeios soviéticos. Voltava à sua cabeça as memórias das guerras. No ano seguinte, com a idade de 77 anos, faleceu como cidadão brasileiro, após ter vivido 46 anos no país.

Os dados da Bibliografia de Reinhard Maack foram compilados da introdução do livro “Geografia Física do Estado do Paraná” Editora José Olympio 1981. Esta biografia foi publicada no livre de Antonio Paulo Faria “Montanhismo Brasileiro: Paixão e aventura” e modificado por Pedro Hauck para o AltaMontanha.com

Reinhard Maack – Geocientista e aventureiro - AltaMontanha.com

André Rebouças

André Rebouças

ANDRÉ REBOUÇAS

Engenheiro e Escritor


André Pinto Rebouças nasceu na Bahia, na Cidade de Cachoeira, em 1838, filho do advogado mulato Antônio Pereira Rebouças, era tão fraco e doente que ninguém supunha que fosse sobreviver. Mas, em 1842, o pai foi eleito deputado e a família se mudou para o Rio de Janeiro. A mudança fez tão bem para André como para o seu irmão, Antônio. E, André Pinto Rebouças, se transformou num dos mais ativos militantes negros do movimento abolicionista, figurando ao lado de “Joaquim Nabuco e José do Patrocínio”. Formou-se em engenharia pela Escola Central no ano de 1860, portanto, com 22 anos de idade. Teve grande participação na Campanha do Paraguai. Ao viajar para a Europa especializou-se em fundação e obras portuárias, permitindo-lhe, quando regressou ao Brasil participar da “construção do Porto da Cidade do Rio de Janeiro”, e de outros portos do País, assim como esteve à frente de projetos de obras ferroviárias e de abastecimento de água.
Foi o “construtor das primeiras docas no Rio de Janeiro, no Maranhão, na Paraíba, em Pernambuco e na Bahia”.
André Rebouças acabou atravessando o Brasil em várias direções e participando também das várias instalações de núcleos de colônias, às margens do Rio Paraná e do Rio Uruguai.
Na sua luta contra o estatuto da escravidão, André Rebouças, funda juntamente com Joaquim Nabuco, o Centro Abolicionista da Escola Politécnica, do qual era um de seus professores.
Como jornalista, escreveu inúmeros artigos sobre a problemática da questão do regime escravo utilizado no manifesto da “Confederação Abolicionista”.
E, como intelectual negro que fez público diversos de seus escritos, através dos quais estudou com profundidade os fundamentos da estrutura agrária em nosso País, em conseqüência do que poderia vir a acontecer com eliminação do trabalho servil, acreditando que o braço emigrante seria capaz de solucionar as dificuldades rurais no Brasil.
A partir de 1872 André se dedicou integralmente ao abolicionismo, influenciando toda a ação do movimento, Era tímido e mau orador, mas segundo Joaquim Nabuco, “teve o mais belo dos papeis, embora oculto: “Foi nosso motor e nossa inspiração”.
Com a proclamação da “República”, André Rebouças exila-se do Brasil e nunca mais retorna ao convívio de seus compatriotas. Viveu seis anos no continente de seus antepassados, na África, visitando particularmente as possessões portuguesas de além mar, fixando-se definitivamente na “Ilha da Madeira”, em Funchal, onde veio a falecer em 1898, com 60 anos de idade.
Morreu solitário, sobre uma grande pedra, em frente ao mar. Não estava apenas só: estava também pobre e amargurado. O exílio, porém, era voluntário. André Rebouças conseguira atingir o maior objetivo de sua vida: A escravidão fora, enfim, abolida do Brasil. Mas o custo lhe pareceu alto demais. Amigo do Imperador D. Pedro II, que venera, da Princesa Isabel e do marido dela, o Conde d’Eu, André Rebouças sabia que abolição fora uma das causas da Proclamação da República, e a República. É claro, destrona os monarcas. Assim, o mulato franzino que fora um dos maiores propagandistas e meticuloso estrategista do movimento pela libertação dos escravos deixou o País no mesmo navio no qual a família real partiu para o exílio.
A morte de D. Pedro II, em 1891, lhe provocou distúrbios emocionais. Na África, André Rebouças, numa jornada louca que o levou a Moçambique, Zanzibar. Foi-se meter no “Transvaal”, onde alimentou o plano delirante de vestir toda a população de 300 mil habitantes. Detalhista como sempre, calculou que seriam necessários “mais de 900 mil metros (de tecidos) a fornecer imediatamente; e como serão indispensáveis seis mudas no verão, 5,4 milhões de metros de pano de algodão por ano”. Achava que o projeto salvaria as fábricas da Europa da bancarrota. Embora capaz dedicar-se a planos tão utópicos quanto vestir toda a população de um país miserável, André Pinto Rebouças era também um homem prático e ativo.
Na história do Brasil fala-se muito dos irmãos Rebouças. Pois, Antônio, seu irmão, também foi um negro notável, chegando a ser deputado, celebrizando-se por ser o construtor, engenheiro que também era, da estrada-de-ferro “Paranaguá- Curitiba (1871-1874). Antônio, nasceu em 1839 em Cachoeira, Bahia, e faleceu em 1874, depois de edificar várias rodovias, como a de Antonina- Curitiba (Estrada de Graciosa), em 1866, tendo ainda participado de outros projetos de envergadura arquitetônica no Paraná e em São Paulo.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Little Red Rooster

Criação ou descoberta?

Fala-se muito no grande abismo entre ciência e arte, a primeira lógica, objetiva, enquanto a segunda é intuitiva, subjetiva. O poeta inglês John Keats acusou seu conterrâneo Isaac Newton de ter "desfiado o arco-íris" com suas explicações físicas sobre a difração da luz. Ou seja, explicar racionalmente algo de belo que existe no mundo é insultar a sua existência, tirar a sua poesia. (...)

Nós criamos ou descobrimos a ciência? Será que as nossas teorias e os nossos teoremas estão codificados de algum modo na natureza e tudo o que faz um cientista é "des-cobri-los", levantar a coberta que os esconde, revelando seu significado? Ou será que os criamos, usando nossa intuição, observação e lógica? Complicada essa pergunta. (...) Se fosse prudente, parava por aqui, citando a minha sábia avó, que dizia que "criar é coisa de Deus, e descobrir é coisa de gente". Mas por que não tentar inverter isso, fazer do homem criador e não só criatura? Afinal, descobrir é emocionante, mas bem mais passivo do que criar. (...)

O artista é o criador, ele ou ela dá existência a algo que não existia, enquanto o cientista é o descobridor, aquele que revela o significado oculto das coisas, sem criá-las. Beethoven criou a sua Nona Sinfonia, certo? Ela não existia antes de ele existir. Já Newton descobriu as três leis do movimento – elas estavam lá, escondidas na natureza, esperando para serem reveladas pela mente certa.

Muita gente pode se contentar com essa explicação e dar o caso por encerrado. Mas eu não. Para mim, a ciência é uma criação, tão criação quanto uma obra de arte. O fato de arte e ciência obedecerem a critérios de validade diferentes, de a ciência ter uma aceitação baseada no método científico, que provê meios para que teorias sejam testadas frente a observações, não muda a minha opinião. Ciência é criação do homem, fruto de nossos cérebros e de nosso modo de ver o mundo. Para entender isso, basta examinar um exemplo de sua história.

Aristóteles dizia que a gravidade vinha da tendência dos corpos de voltarem ao seu lugar de origem: uma pedra caía no chão porque foi de lá que ela tinha vindo. Newton, no século 17, propôs que a gravidade era uma força entre quaisquer corpos materiais, com intensidade proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado de sua distância. Einstein, em 1916, disse que a gravidade vem da curvatura do espaço em torno de um corpo maciço, reduzindo-o a um efeito geométrico.

Todas essas teorias foram propostas para explicar os mesmos fenômenos. Imagino que Einstein não terá a última palavra: a gravidade será explicada de formas diferentes, na medida em que o conhecimento científico avançar. Junto com novas tecnologias e novos conceitos surgem novas representações do mundo natural. Pode-se descobrir um novo fenômeno, mas sua explicação é criada. (...)

A visão científica, como a artística, está em constante transformação. Ciência é uma construção humana, criada para que possamos compreender o mundo em que vivemos. O que se descobre são novos modos de criar.

(Adaptado de: GLEISER, Marcelo. Folha de S. Paulo, Mais!, 14 set. 2003.)